sexta-feira, agosto 05, 2022

Guerras Secretas: Por que parei de ler quadrinhos?

 

O nome Guerras Secretas surgiu de uma pesquisa do departamento de marketinga da Marvel.


Eu leio quadrinhos desde que me entendo por gente. Quando criança, lia Turma da Mônica e Disney. Depois, numa fila de banco, descobri os quadrinhos da Marvel e virei fã. Passei a colecionar Superaventuras Marvel. Mas no ano de 1986 eu parei de ler tudo. A razão foi a minissérie Guerras Secretas, publicada pela Abril naquele ano.
Para quem não sabe, Guerras Secretas era uma minissérie em 12 capítulos nos quais os principais heróis e vilões da Marvel eram enviados a um planeta distante e colocados para lutar. Como dizia o roteirista Jim Shooter, a ideia era fazer uma HQ que mostrasse aos meninos como brincar com os bonecos dos personagens Marvel. Aliás, o próprio nome da série e dos brinquedos veio do departamento de marketing: uma pesquisa descobriu que “Gerras” e “secretas” eram as palavras que mais vendiam produtos para meninos.
 Essa série estava muito além da cronologia da Abril, mas a editora resolveu publicar porque os brinquedos iam ser fabricados no Brasil pela Gulliver e a empresa precisava do apoio dos quadrinhos para aumentar as vendas.
A Abril precisava lançar o gibi para ajudar a vender os bonecos. 

Eu, que na época não sabia que aquilo era só uma jogada de marketing, comprei desde o primeiro número. No número 11, na última página, havia uma prévia do que aconteceria no final da saga.
Nessa época um amigo que cuja família tinha casa em Mosqueiro me convidou para passar uma semana com ele lá. Mosqueiro é região de praia, próximo a Belém. Na época só havia uma banca no local e o dono praticava os preços que queria, já que não havia concorrência. E não adiantava argumentar que a revista tinha o preço na capa.
- Vá comprar em outra banca, então! – respondia ele, com desdém.
A revista que me fez parar de ler quadrinhos. 

E Guerras Secretas 12 saiu exatamente quando eu estava em Mosqueiro. E o dono da banca, percebendo que a procura daquele gibi específico era grande, simplesmente dobrou o preço. Ainda assim eu comprei. Quando finalmente consegui ler, percebi que o final tinha sido completamente modificado (a Abril fez isso para adequar a série à cronologia da editora). Mesmo não tendo a revista original, era fácil perceber isso porque nada batia com a prévia que eles mesmos tinham publicado na 11.
Resultado: fiquei tão revoltado por ter pagado o dobro do preço numa revista totalmente adulterada que simplesmente parei de ler quadrinhos.
No ano seguinte, quando saiu Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, arrisquei comprar, afinal todo mundo estava falando bem daquela série. Não só gostei como voltei a ler quadrinhos.
Anos depois eu voltei a ler Guerras Secretas na versão sem as mudanças da Abril. E cheguei à conclusão de aquilo era de fato muito ruim com ou sem mudanças. Provavelmente eu só tinha gostado da primeira vez graças ao desenho do Mike Zeck, que até hoje me impressiona.

2 comentários:

Cláudio Gomes disse...

Eu tive essa minissérie toda; no final de cada revista havia um resumo do que aconteceria no próximo número. Na edição 11 vinha uma chamada assim: "Toda verdade sobre Guerras Secretas será revelada à Encantor por uma bizarra criatura aquática". Daí quando chegou a última edição fiquei procurando a tal criatura e nada de encontrar. Fiquei anos sem entender, até que saiu a versão original sem cortes em Teia do Aranha 62 a 66. Foi só a partir daí que eu soube dos cortes da Abril nas histórias. Portanto entendo e partilho de sua frustração com a Editora Abril.

Gian Danton disse...

Pois é. Fico óbvio demais que a história tinha sido completamente modificada no último número.