segunda-feira, setembro 16, 2024

Curitiba: cidade modelo

 


Curitiba é hoje uma das cidades mais elogiadas e copiadas do mundo. O modelo urbano premiado surgiu na década de 1970 quando um engenheiro foi nomeado prefeito de Curitiba pelo regime militar.
Ao invés de nomear um político, como havia sido feito em outros locais (Collor, por exemplo, foi indicado prefeito de Maceió), na capital paranaense resolveram colocar como gestor um técnico: Jaime Lerner. Eu vi propagandas políticas de Lerner e posso garantir que ele nunca seria eleito. Não era um político. Seus vídeos eram ele com um pincel atômico, desenhando suas propostas. Parecia um técnico apresentando sua proposta para clientes.
No entanto, lá estava ele, no comanda da capital paranaense e o resultado todos conhecem: ele transformou uma cidade provinciana, quase desconhecida em uma referência mundial de planejamento e mobilidade urbana. Um planejamento tão acertado que impediu até mesmo que a cidade tivesse uma cracolândia, já que não há áreas por onde as pessoas não passam (a cidade foi pensada para promover essa movimentação de pedestres).
No entanto, nunca ouvi nenhum defensor dos militares citar Curitiba ou Jaime Lerner. Da mesma forma, nunca vi nenhum desses citar o general Golbery, um dos mentores do regime militar, grande gênio, conhecedor de filosofia, política, sociologia. É curioso que nenhum desses seja sequer citado.

Super-homem – O herói imortal

 

No início da década de 1970 já se vivia a era de bronze. Mas as histórias do Super-homem ainda estavam na era de prata, a exemplo da saga O herói imortal, publicada em Action Comics 385 a 387 e republicada aqui no volume 21 da Coleção Invictus, da Nova Sampa.

A HQ, escrita por Cary Bates e desenhada por Curt Swan, começa com o presidente dos EUA chamando o Super-homem e pedindo que ele não viaje no tempo: “O sucesso da experiência do vortex secreto depende da continuidade entre tempo e o espaço. Portanto, você não deve voar ao futuro ou passado nas próximas 24 horas”.

Mas na sequência, uma mão mecânica aparece do nada e escreve uma mensagem na porta da fortaleza da solidão: “Super-homem, sua ajuda é necessária no ano 101.971”.

O herói resolve viajar para o futuro numa esfera defeituosa. 

O homem de aço conclui que o pedido é urgente e resolve viajar numa esfera do tempo deixada na fortaleza pelos membros da Legião dos Super-heróis, o que, aparentemente, não interferiria na experiência do Vortex. Mas uma plaquinha avisa: “Funciona, mas está com defeito”.

Esse é um dos primeiros muitos problemas do roteiro de Cary Bates. Se o problema é no futuro e o Super-homem poderia viajar a qualquer momento, porque ele não pode esperar até o dia seguinte para viajar para o ano de 101.971? Bates parece não compreender que a data da partida não fará diferente nenhuma em uma viagem no tempo, já que o que vale mesmo é a data da chegada.   

Quando o herói chega ao futuro descobrimos qual é a urgência urgentíssima que levou os homens do porvir a pedirem ajuda do homem de aço. Seria um vilão prestes a destruir a terra? Seria um desastre ambiental? Seria um cataclisma cósmico? Não, é algo muito mais importante: estão roubando dinheiro de um banco!

A esfera defeituosa faz o herói envelhecer. 


O Super descobre que o “ladrão” na verdade é um ser de energia que vive na rede elétrica em volta do cofre e para derrotá-la, pinta de amarelo dinheiro azul. A razão é que o ser só se alimenta de objetos com cores quentes e, ao se alimentar de um alimento com cor fria pintado de cor quente, ele se envenaria. Mas o leitor com inteligência mediana se pergunta: se o dinheiro azul for pintado de amarelo, ele não fica amarelo? A lógica de Cary Bates é bizarra.

Mas vamos em frente: ao tentar voltar para nossa época, o super não consegue porque um vilão o impede – nós não temos a menor ideia de como isso é feito – e a única solução é ir para o futuro.

Após ser impedido de voltar para o passado, o herói viaja para o futuro, onde encontra uma época em que o uso de super-poderes é proibido.

Bates coloca o personagem numa sinuca de bico: como fazer o personagem rejuvenescer e voltar para nossa época? O roteirista resolve a situação nas últimas duas páginas tirando da cartola uma teoria “científica”.

A mesma publicação da Nova Sampa traz também uma outra história do super, escrita por Otto Binder que apresenta uma curiosidade: a HQ é narrada do ponto de vista de uma pedra de kriptonita.

Em tempo: a capa da Nova Sampa é belíssima. Trata-se de uma pintura a nanquim colorido de Ademir Pontes sobre desenho de Neal Adams. 

domingo, setembro 15, 2024

Entenda como funciona o bolsa-empresário

 

A era de ouro da DC

 

Em 2010 a DC Comics completou 75 anos. Para comemorar, a Panini lançou no Brasil uma coleção em quatro volumes, cada um reunindo histórias de um período: Era de Ouro, Era de Prata, Era de Bronze, Era Moderna.

O volume Era de Ouro reunia as primeiras histórias de alguns dos personagens mais populares da editora, a começar, claro, pelo Super-homem, o personagem que não só criou a DC como fundou todo um novo gênero nos quadrinhos.
A história que abre o volume é a primeira do Homem de aço, cuja capa se tornou célebre com o herói batendo um carro contra uma pedra enquanto malfeitores fogem apavorados. Essa história havia sido recusada por vários editores – e dá para perceber facilmente as razões. A trama é mal-engendrada, com pulos narrativos estranhos.
Depois de uma pequena introdução, na qual Jerry Siegel, o roteirista, estabelece a verossimilhança da história comparando o personagem às formigas que carregam várias vezes seu peso ou o gafanhoto capaz de dar saltos enormes, a história começa no meio. O Super-homem salta no ar com uma moça nos braços. Ela é a verdadeira culpada de um crime e o herói precisa convencer o governador a perdoar uma moça que será executada em seu lugar. Depois a história pula para outra trama e para outra, sem muita conexão.
A sequência do carro, apesar de famosa, é bizarra. Bandidos sequestram Lois Lane. O Super-homem pega o carro em que estão e o sacode, fazendo os bandidos caírem – o problema é que pela lógica, também a jornalista cairia do carro. Siegel, um garoto na época, estava nos seus primeiros passos como roteiristas e o que acaba se destacando é a arte de Joe Shuster. Seu desenho elegante certamente foi fundamental para o sucesso do personagem.
Flash ganha poderes após fumar no laboratório de química. 


O volume traz também a origem do Flash, escrita por Gardner Fox e desenhada por Harry Lampert. Fox também escreve a história da Sociedade da Justiça. Seu texto estava muito longe do que viria a ser na era de prata, quando ele ajudaria a revolucionar os heróis DC. O roteirista parecia estar convencido de que escrevia exclusivamente para crianças – o que fica óbvio na história da Sociedade da Justiça, mas também pode ser percebida na origem do Flash.
Lendo essas histórias há coisas que parecem estranhas. Flash, por exemplo, se transforma no herói graças a um acidente provocado pelo fato dele estar fumando no laboratório de química! O interesse romântico do personagem, Joan, parece uma patricinha convencida, que se interessa pelo herói apenas quando ele usa suas habilidades recém-adquiridas para ganhar o campeonato de futebol americano. Além disso, o uniforme do Flash surge do nada, no meio da HQ.
As duas melhores HQs do volume são as dedicadas ao Capitão Marvel e à Mulher Maravilha.
O desenho de CC Beck chamava atenção pela elegância. 


O desenho de CC Beck no Capitão Marvel é simplesmente lindo. Com poucos traços, mas eficiente e com sequências que remetem diretamente à art decó, como no quadro em que aparece o metrô. O uniforme do personagem é igualmente bonito. Além disso, o roteiro de Bill Parker já nos apresenta um personagem acabado, e não em construção. Sua origem é bem estabelecida, assim como o clima das histórias, voltado para a magia – em oposição ao Super-homem, que era calcado na pseudo-ciência.
As histórias da Mulher Maravilha tinham uma qualidade muito acima do restante.


A melhor história do volume é a origem da Mulher Maravilha, escrita por Charles Moulton com desenhos de H. G. Peter.
Peter já era um desenhista de experiência quando embarcou no mundo dos quadrinhos e isso é facilmente perceptível pela forma competente como ele cria visualmente a Ilha Paraíso. Seu desenho tem um apelo vintage que o faz interessante até os dias atuais.
Mas o destaque vai mesmo para o texto de Moulton (pseudônimo do psicólogo William Marston). Marston tem pleno domínio da narrativa e cria sua própria versão da mitologia grega, atualizando-a e adequando à personagem.  Até mesmo quando os quadrinhos são substituídos por texto corrido acompanhado de ilustrações, a história não perde o encanto, tal a qualidade do texto.

Júlio Verne, o viajante das idéias

 



Houve uma época em que milhões de crianças no mundo todo se deliciavam com viagens extraordinárias em que o mundo se revelava diante delas trazendo consigo as maravilhas de uma nova ciência: a geografia. Tudo graças a um escritor francês dotado de imaginação e rigor na busca de informações. Seu nome era Júlio Verne.
Quando Verne publicou seu primeiro romance,  Cinco Semanas Num Balão, em 1863, as descobertas científicas aconteciam a um ritmo cada vez mais rápido. Darwin publicara há cinco anos seu livro A Origem das Espécies, de Darwin. Há pouco tempo Pasteur divulgara suas descobertas, que derrubavam a teoria da geração espontânea de vida e lançava a teoria dos vermes como causadores de doenças. Entretanto, o povo, o cidadão comum, ainda via a ciência como uma desconhecida, uma curiosidade de laboratório, de interesse apenas de homens sábios. Pouco havia sido escrito que fosse do entendimento do homem comum e, principalmente, das crianças.
Cinco semanas num balão começou com o nome de A Viagem no ar. Em outubro de 1862, Júlio Verne apresentou o original para o editor Pierre-Jules Hetzel. Hetzel foi tão importante no direcionamento da carreira desse, então estreante escritor, que pode, de certa forma, ser considerado co-escritor. O livro era uma referência direta aos exploradores que revelavam os segredos da África. Nele, o doutor Samuel Fergunson, seu amigo Dick Kennefy e um empregado se aventuram do Zanzibar até o Niger em um balão, refazendo o percurso de muitos dos homens que desbravaram o continente. Hetzel fez várias sugestões para tornar a história mais palatável, inclusive a mudança do título para Cinco semanas num balão. Hetzel tinha tanta confiança no texto de Verne que o fez assinar um contrato para outros livros. O contrato dizia, abertamente que o objetivo dos livros era: “Resumir todos os conhecimentos geográficos, geológicos, físicos, astronômicos, acumulados pela ciência moderna e refazer, sob a forma atrativa e pitoresca que lhe é própria, a história do Universo”.   
Em Cinco Semanas Num Balão, Júlio Verne, com o auxílio de Hetzel, introduzira um novo tipo de novela - uma forma diferente de contar história, um misto de ficção e realidade.
Qualquer itinerário serviria para o Vitória, mas a viagem tornara-se mais real porque acompanhava claramente o percurso da expedição de 1850 levada a cabo pelos exploradores Richard Francis Burton e John Hamming Speke.
Quanto à construção do balão, Júlio Verne tornara-a perfeitamente praticável com seu complicado fogão que provocava a expansão do hidrogênio por meio de aquecimento, fazendo o aparelho elevar-se sem ser necessário sacrificar lastro. A idéia do balão duplo foi tomada de Mensnier de Laplace e Nadar; a bateria elétrica viera das experiências  de Albert Wilhehn Bursen e a luz brilhante do arco improvida para arrancar o desgraçado missionário lazarista às torturas infligidas pelos selvagens africanos viera dos manuscritos de Humphry Javoy.
Tudo isso deu à história uma verossimilhança que jamais se vira em um livro de aventuras, abrindo caminho para toda a literatura de ficção-científica do século XX. Mais: a obra de Verne se tornou a base do gênero Steampunk, um dos mais populares e importantes do século XXI.
Depois de Cinco semanas em um balão, vieram diversos outros livros, como Viagem ao centro da Terra, A volta ao mundo em 80 dias, Da Terra à Lua e, o mais famoso deles, 100 mil léguas submarinas.

Planeta 51: ficção científica como metáfora política

 

Planeta 51  é um filme de animação espanhol-inglês dirigido por Jorge Blanco, escrito por Joe Stillman. A história se passa em um planeta extraterrestre semelhante à Terra dos anos 1950. O protagonista é Lem, um garoto de 16 anos que sonha um dia dirigir o planetário da cidade. Sua vida é mudada quando ele descobre, escondido no planetário, um astronauta terrestre se escondendo das autoridades. 
O filme é uma espécie de ET ao contrário, com um humano em um planeta alienígena tentando voltar para a nave e tendo de fugir da perseguição oficial. 
Os fãs de ficção científica mais atentos vão se deliciar com as centenas de referências a outros filmes. Um cachorrinho, por exemplo, tem a cara do Alien e urina ácido. Outro grande referencial é Vampiros de almas, de Don Siegel, 1956, filme em que extraterrestres tomam o lugar de humanos em uma pequena cidadade do interior dos EUA.  Vampiros de almas foi escrito como uma crítica à paranóia anti-comunista que dominou a América nos anos 1950, em que se imaginava que qualquer um podia ter se tornado um comunista. Planeta 51 retoma essa premissa na cena em que o general acusa um hippie de ter sido transformado em zumbi pelo terrano apenas porque ele usa cabelo comprido. 
Planeta 51 tem, portanto, uma mensagem política. É sobre o medo do novo e sobre o conservadores versus inovações sociais. A cena em que os soldados avançam sobre os hippies com cacetetes é, nesse sentido, emblemática.  

Quais foram as descobertas da ciência nazista?

 


Até há pouco tempo, achava-se que as experiências nazistas em campos de concentração eram apenas demonstrações de sadismo, sem qualquer tipo de metodologia científica que tornasse os resultados válidos. No entanto, pesquisa recente, realizado pelo Instituto Max Planck, na Alemanha, mostra que os nazistas avançaram em diversas áreas.
As pesquisas sobre hipotermia (efeito do frio sobre o corpo humano), por exemplo, só puderam avançar graças à total falta de ética dos cientistas nazis. Eles colocavam prisioneiros em banheiras repletas de gelo para saber quanto tempo uma pessoa aguentava em frio extremo e o que melhorava a expectativa de vida, uma pesquisa importante em vista dos aviadores alemães que caiam nos mares gelados do norte da Europa. Eles descobriram, por exemplo, que protegendo o pescoço, aumentavam a chance de sobrevivência, razão pela qual os coletes salva-vidas a partir de então passaram a ter uma proteção para o pescoço.
Além disso, os nazistas fizeram pesquisas importantes, relacionando, estatisticamente, o cigarro com o câncer de pulmão.
Na área de anatomia, os alemães eram os únicos que tinham a possibilidade de dissecar pessoas vivas para ver como funcionava o organismo. Sigmund Rascher, responsável pelo campo de concentração de Dachau, dizia que era o único que de fato conhecia a fisiologia humana, pois “fazia experiências com homens, e não com ratos”.

A grande questão é se temos autorização ética para usar os resultados dessas pesquisas.  

Fundo do baú - Toro e pancho

 


Toro e pancho (Tijuana Toads, no original) eram uma dupla de sapos mexicanos baseados no Gordo e o Magro.

O desenho foi criado pela DePatie-Freleng Enterprises e exibido de 1969 a 1972, num total de 17 episódios.

Vestidos apenas com grandes chapéus mexicanos, os dois viviam geralmente aventuras nas quais escapavam de serem comidos ou estavam procurando comida.

Um personagem recorrente é um pássaro (provavelmente uma garça) que tenta comer os dois sapos. No primeiro episódio em que ela aparece, os sapos se escondem num galpão e Toro tem a ideia de fazer ela acreditar que ele bebeu nitroglicerina, quando na verdade ele beberia água. Mas Pancho se atrapalha e dá para ele nitroglicerina de verdade (o episódio termina com o sapo explodindo ao dar pulos para comemorar terem escapado da garça).

A personalidade dos dois era bem demarcada: Toro era líder da dupla, enquanto Pancho era atrapalhado e ingênuo. Mesmo nos momentos em que Pancho tinha um plano para se livrar das enrascadas em que os dois se metiam, Toro se apropriava dele com a frase “Ainda bem que tive essa ideia”.

Um episódio que fugia do padrão “sapos fugindo de predadores – sapos procurando comida” é aquele em que Toro arranja uma namorada. Mas ela quer que Toro emagreça. Ele tenta de tudo, acaba desistindo e pede ajuda ao desenhista, numa verdadeira quebra da quarta parede. 

Gilgamesh, de Jim Starlin


Gilgamesh é o protagonista de uma das primeiras epopéias da história da humanidade. Estima-se que o clássico babilônico sobre um herói que matava monstros seja 1.500 anos anterior a obras como a Odisséia.

Recontar essa história, por si só seria um desafio. Mas Jim Starlin acrescenta um item a mais de complexidade. Especialista em sagas estelares, ele resolve transformar o épico Gigamesh em uma história de ficção científica.
O comandante tenta salvar a espécie enviando duas cápsulas, mas o robô envia dois machos. 


Na trama, uma nave extraterrestre vinda de um planeta condenado está se aproximando da Terra. A energia da nave está acabando e não há tempo de procurar outro local para pousar. Por outro lado, não existem mais o sistema de defesa. Para aumentar a chance de sobrevivência da espécie, o comandante manda soltar duas sondas. Quando a nave é destruída por misséis terrestres, as duas sondas são tudo que restou da espécie. Só que, por uma falha de robô, foram enviados dois meninos.

Uma das sondas cai em uma selva sul-americana, enquanto a outra cai em uma plantação de maconha na fronteira do México com os EUA e o garoto alienígena acaba sendo adotado por um casal hippie. O garoto é chamado de Gilgamesh em homenagem ao herói clássico.
Jim Starlin faz algumas ótimas sequências de humor... 


A história pula para 25 anos depois. O garoto que caiu na floresta torna-se um selvagem que expulsa todos que se aproximam, enquanto o outro, Gilgamesh, tornou-se presidente da empresa que domina a política mundial.

Há cenas cômicas, como a de quando Gilgamesh manda uma prostituta para cuidar do selvagem e este não sabe lidar com a sensualidade da garota. Há cenas memoráveis de ação, como no primeiro encontro entre os dois, ou quando eles enfrentam um monstro nas selvas sul-americanas.
... mas o forte da história é a ação. 


Jim Starlin mistura ficção científica e humor para falar dos mais diversos temas atuais, que vão do colonialismo à ecologia ao mesmo e o faz numa narrativa envolvente de ficção científica. Ou seja: Starlin fazendo o que ele faz de melhor.

O único aspecto lamentável dessa história em quatro partes é o fato de que ela acaba rápido demais. Fica a impressão de que os personagens poderiam ser muito melhor desenvolvidos uma série mais longa.
No Brasil essa minissérie foi lançada pela editora Globo.

sábado, setembro 14, 2024

Capitão América – Motim no pavilhão 10

 



A história do Capitão América publicada em Tales of Suspense 62 começa com uma cena impressionante do personagem pulando sobre vários malfeitores e desviando das balas, uma daquelas splash pages impressionante de Jack Kirby.
Capitão, você precisa parar de se meter nessas roubadas. 


Na trama, o herói é chamado para uma penitenciária a pedido do diretor da prisão para demonstrar como se defenderia caso os prisioneiros fugissem. Não faz o menor sentido.
Na verdade, isso é uma estratégia de um dos prisioneiros, Deacon, que aprisionou o diretor da prisão, mas não consegue fugir pois é necessário passar por um portão blindado que opera por magnetismo. A ideia deles é usar o escudo do Capitão para abrir o portão, já que, segundo notícias, Tony Stark instalou um equipamento magnético no escudo.
Uma aula de narrativa. 


Alguém precisa dizer para o Capitão parar de se meter nessas roubadas, mas provavelmente a história deve ter surgido de uma imagem ou de uma ideia de Kirby. Imagino o diálogo:
Jack Kirby: Estou com vontade de fazer uma história com o Capitão enfrentando bandidos numa prisão.
Stan Lee: Tudo bem, faça aí, eu dou um jeito de justificar isso.
A história em si não faz muito sentido, pois, se o Capitão entrou na prisão, ele entrou pelo portão blindado e não teria como ele surpreender ao descobrir no final, como mecanismo funciona.
Entre mortos e feridos, salva-se uma história que é pura ação, com cenas divertidas e verdadeiras aulas de narrativa visual – em uma sequência, por exemplo, o herói joga seu escudo e vemos apenas bonés, sapatos, armas usadas pelos presos, voando pelo espaço em meio às linhas de ação. 

Os Novos Titãs contra o Exterminador

 


Já no número dois da revista, os Novos Titãs conheceram aquele que seria um dos principais inimigos da equipe: o Exterminador.

A história começa com uma splash page antológica, na qual o mercenário é inquirido pelos homens da C.O.L.M.E.I.A., que pretendem contratá-lo para destruir os titãs. O vilão exige pagamento adiantado e recusa a empreitada, o que aparentemente estava nos planos do grupo.

Nota: nessa época era comum os quadrinhos de super-heróis terem grupos misteriosos com nomes que eram acrósticos. C.O.L.M.E.I.A. significava Controle de Lideranças Mundiais para Espionagem, Insurreições e Atentados. Parece ridículo atualmente, mas nos anos 70 e 80 era moda.

A primeira e impressionante aparição do Exterminador. 


A C.O.L.M.E.I.A. ira usar um rapaz que aparece no primeiro número como isca para fazer o exterminador aceitar o trabalho. Para isso, eles amplia seus reflexos e o transformam no Devastador.

Mas o que faz dessa história, a terceira dos Novos Titãs, tão especial, não é necessariamente o arranca-rabo entre mocinhos e vilões, e sim a pegada adolescente do título. Os titãs da década de 1960 tinham sido um fracasso exatamente porque não se comportavam como jovens de verdade. Marv Wolfman e George Perez mostram um grupo que se comporta como qualquer adolescente se comportaria, incluindo um divertido banho de piscina.

Estelar aprende inglês beijando Robin. 

Mas a sequência mais emblemática dessa edição acontece quando o grupo decide que o fato de Estelar não falar a língua do restante do grupo é um problema. A garota parece entender e simplesmente beija o Robin, para logo depois sair falando inglês. “Oi Robin”, diz ela. “Sabia que você é uma gracinha?”. E, para um atordoado Kid Flash, que não entendeu nada do que aconteceu: “Contato físico. Eu simplesmente absorvi a língua de vocês”.

Essa sequência mostrava mais uma diferença da série antiga dos Titãs: essa seria repleta de insinuações sexuais. Considerando-se que o grupo era formado por adolescentes com hormônios à toda, isso era algo óbvio, mas nunca havia passado pela cabeça dos roteiristas anteriores.  

Joyland, de Stephen King

 


Stephen King é mais conhecido pelos livros de terror. Entretanto, alguns dos melhores momentos dele foram em textos que pouco tinham do gênero, a exemplo da noveleta O corpo (que deu origem ao filme Conta comigo) ou o romance O corredor da morte (que deu origem ao filme À espera de um milagre). Em Joyland, King mostra que pode ser um mestre em outra modalidade: o policial.
A história se passa em um parque de diversões (o Joyland do título) assombrado por um assassinato: uma garota foi degolada no meio de um brinquedo (conhecido no Brasil como trem fantasma). O assassino nunca foi pego e tudo leva a crer que ele matou outras garotas. A moça assassinada aparece de tempos em tempos para trabalhadores do parque, pedindo ajuda.
O personagem principal é um jovem universitário que acabou de ser chutado pela namorada e aceita um trabalho provisório no parque. Juntam-se a ele dois outros estudantes: uma linda garota ruiva e seu namorado fortão e simpático.
Como o leitor certamente adivinhou, a trama gira em torno da tentativa de se descobrir quem é o assassino (e, numa óbvia contribuição Kingiana, acrescenta-se um garoto doente com dom mediúnico). Mas esse não é o forte de Joyland (embora providencie um final realmente eletrizante). O forte do livro é aquilo que King faz melhor: mostrar personagens cativantes em uma narrativa saudosista. O capítulo em que o garoto doente é levado para passear no parque é um dos pontos altos da obra – algo que só King, com sua narrativa rica e extremamente coloquial conseguiria fazer.
O livro emula os pulp fictions não só na trama, mas também na capa, com o título em fonte vintage, mostrando uma garota Hollywood com sua máquina fotográfica na mão olhando apavorada para alguém que se aproxima, tendo o parque de diversões ao fundo.
Esse estilo saudosista é bem resumido no trecho: “Essas são coisas que aconteceram há muito tempo, em um ano mágico em que o petróleo era vendido por onze dólares o barril. O ano em que meu coração foi partido. O ano em que perdi a virgindidade. O ano em que salvei uma linda garotinha de se engasgar e um velho bem cruel de um ataque cardíaco (...) Também foi o ano em que aprendi a usar uma língua secreta e a dançar o Pop Pop com uma fantasia de cachorro. O ano em que descobri que há coisas piores que perder uma garota”.
Surpreendentemente para King, o livro tem exatas 239 páginas, o que permite ler de uma sentada. 

Bom dia, Verônica – Segunda temporada

 


A primeira temporada do seriado Bom dia, Verônica parecia tão redondinha, tão fechada, que uma segunda temporada tinha tudo para ser forçada. Afinal, o psicopata Brandão, vilão da trama, havia morrido no final. Continuar a história, portanto, era uma aposta arriscada. No entanto, o roteiro acabou sendo amarrado de tal forma que a continuação consegue ser tão boa quanto.

Na segunda temporada o vilão é Matias Carneiro, um líder religioso que usa sua posição para abusar de mulheres, praticar tráfico humano e criar uma milícia que se infiltra em todas as instâncias do poder, em especial na polícia.

Se na primeira tempora o grande destaque era Camila Morgado, no papel de esposa do psicopata Brandão, aqui o destaque fica por conta de Klara Castanho, que interpreta a filha de Matias Carneiro.

A relação pai e filha é marcada por uma superfície de amor e carinho, representada pela cena inicial, em que Matias acorda a filha com a caixa de música de bailarina. O que vemos ali é um pai apaixonado pela filha criança, que parece dedicar toda a sua atenção e compreensão a ela.

Mas, por trás dessa superfície, existe uma história de abusos que fica o tempo todo implícita.

As cenas entre os dois parece sempre oscilar entre dois momentos, um de carinho paterno e outro de violência, violência que aparentemente nunca se revela, mas sempre está ali, em olhares, em pequenas expressões, sempre implícita. Para isso contribui muito a atuação de Reynaldo Gianecchini no papel de Matias, que com seu olhar calmo e sua voz doce consegue ser capaz de manipular qualquer um.

É curioso como os roteiristas Raphael Montes e Ilana Casoy conseguem costurar essa trama quase caseira com a história de Verônica, que continua investigando as conexões do psicopata da primeira temporada. A relação entre as duas histórias vai se tornando cada vez mais estreita até os episódios finais, que são simplesmente hipnotizantes.

Vale destacar também como o contexto religioso é muito bem aproveitado, com destaque para a cena em que Matias e sua filha cantam a música “Quando o sol bater na janela do seu quarto”, do Legião Urbana. A cena resume toda a base de aparente carinho e, ao mesmo tempo, tensão.

Em tempo: Matias Carneiro é evidentemente inspirado em João de Deus, o curandeiro envolvido em diversos crimes, entre eles estupros e assassinatos.  

A arte única de Alex Toth

 


Alex Toth é um desenhista norte-americano mais conhecido pelos seus desenhos de produção para a Hanna Barbera, para animações como Superamigos, Jonny Quest e Herculóides. Mas Toth também tem uma produção memorável nos quadrinhos, com o destaque para o Zorro que ilustrou para Disney. Seu desenho aparentemente simples, mas extremamente funcional e bonito influenciou diversos artistas. 







Pérolas do vestibular

 


Volta às aulas é tempo de lembrar que nem sempre ensino é sinônimo de instrução. Prova disso são os recentes acontecimentos envolvendo analfabetos que conseguiram passar em vestibulares (incluindo um que ficou como nono colocado no processo seletivo da Estácio de Sá para o curso de Direito) demonstraram a importância da redação em qualquer processo seletivo.
Apesar do caráter subjetivo, é a redação que serve de crivo, selecionando os candidatos que realmente têm condições de fazer um curso superior. 
Eu fui corretor de redações durante anos numa faculdade particular. Durante esse tempo eu coletei diversos exemplos de pérolas.  Algumas delas são apenas engraçadas, mas outras se aproximam muito do analfabetismo e, se não fosse a obrigatoriedade da redação, seus autores poderiam ser selecionados. 

A grafia está exatamente como no original. 

Eis as pérolas: 

"Em que nível chegamos? Num oltidor da ipocrisía, sabia-se há pouco tempo que o homem era a única espécie racista, nos enganamos, pois existem animais que bem treinados chegam ao ponto cume do racismo"

"Desde a Grécia o esporte é arriscado; ao perderem os jogos os competidores eram jogados aos leões"

"A sua reação foi o que todos esperavam, calei a boca e sair. Mais com a ajuda o meu irmão, que, falou a ele para procurar os seus direitos como um cidadã. Eles foram a uma defensoria pública e fizeram uma dênuncia, onde ele é um cidadã como complidor os seus direitos"

"Senhor ministro, tendo em vista sua grande altitude em censurar programas de televisões, devendo ter tido pelo almenos o respeito por nos o povo"

"As cenas exaustas como sexo, beijo na boca, violência e brigas é de fato vulnerável, mais a proibição de se apresentar na televisão no meu vê não deveria ser proibido, pois é com elas no dias futuros, serão nosso governantes pela formação e conhecimento"

"Isto já vem dos nossos avós pré-história onde vencer significava ter comida para sobreviver e perder significava ser almoço de algum animal. Ele tinha que correr mais rápido para não ser refeição. A natureza se encarregava de fazer a seleção natural dos mais velozes"

"O esporte está sendo uma maneira de socorro para muitos atletas"

"A vontade de vencer é bruscada de maneira ofegante pelos atletas"

"A TV vem explicitando cenas de alta periculosidade em termos de censura"

"Venho através desta manifestar a minha idignação pelo que vem acontecendo nessas redes de informação através da livre censura da televisa"

"Os programa de TV viraram abusos da moral infantil"

"Cabe ao senhor tomar uma altitude censata"

"As emissoras de televisão exageram com todas as liberdades de censura que posso perceber"

"O lugar de melhor poste faz a pessoa se achar diferente"

"E quando vinhesse aquelas perguntas de atormenta as nossas cabeças"

"E uma negação tem gente opondo violência, na cabeça infantil apesa dessa norma errada jamais poderia ser um alvo para os menores de 14 anos e por isso se demonstra um mundo cruel de revoltas"

"família sem laços a muitas por ai exemplo a minha família o meu pai quando chjega da rua em cãs chá chega esculhambando com todo mundo e fagabundo que ninguém quer saber de trabalhar que todo mundo que fica deitado dormindo que so ele trabalha que todo mundo fai ficar burro e que todo mundo fai buchar carroça isto não se fala nem para um animau mais um fou mostrar para ele que não é que ele fala e por isso que eu fou estudar e trabalhar para ele parar de ficar falando que todo mundo e isto e aquilo"

"Concordo plenamente a favor da campanha tomada contra a censura aos programas de televisão brasileira"

"O esporte é uma arte aspirada por muitos em todo o mundo, e tem como finalidade maior a vitória, mas sem deixar de lado a disputa"

"Venho por meio desta argumentar a minha indignidade sobre a censura na mídia"

"As competições tornaram-se casos de disputa para saber quem é o melhor"

"Às vezes essa disputa se transforma em uma guerra, onde as conseqüências são catastróficas, que muitas vezes leva a morte de alguém, quando não morre fica grave, aí e que vamos Pará para pensar nas conseqüências"